o gato

atónito do espanto meu,
subi a rua apressada,
levada pelo vento
da fúria.
Encontrei um velho de bengala,
que empurrei
para dentro do autocarro
e enquanto o gato se lambia longamente,
descobri que o que me faltava
era uma bengala.
Para me empurrar
para a vida.
Levantei os olhos
e olhei o gato.
Para lá dos telhados
impostos,
cinzentos,

o doce leite,
lambia o tempo,
indiferente aos outros,
lambia feridas e nódoas de pó,
lambia presentes desfeitos
em sombra.
Entrei no centro
e comprei um perfume
um perfume bengala,
que me ajudou a subir
mais escadas.
Num gesto mecânico
olhei para trás
para o gato
que ficara a lamber-se...passo a mão pelo cabelo
descubro o pelo eriçado.
Imperioso,
amaciar o cabelo
e a vida,
para ganhá-la
com uma bengala de perfume,
trocado que foi
o pau santo.
O gato olha-me
semicerradamente...
Não foge nem se entrega.
E enquanto saio protegida com bengalas
de perfume e disciplina na cabeça, o gato
já desperto para o dia
espreguiça-se ao sol.
Afagado o ego,
o gato,
felina entro em casa.
Nos bolsos escondidas
as bengalas
as garras
de que me tinha
maquilhado
socorrido.
descubro o pelo eriçado.
Imperioso,
amaciar o cabelo
e a vida,
para ganhá-la
com uma bengala de perfume,
trocado que foi
o pau santo.
O gato olha-me
semicerradamente...

E enquanto saio protegida com bengalas
de perfume e disciplina na cabeça, o gato
já desperto para o dia
espreguiça-se ao sol.
Afagado o ego,
o gato,
felina entro em casa.
Nos bolsos escondidas
as bengalas
as garras
de que me tinha
maquilhado
socorrido.