segunda-feira, setembro 18, 2006

Demasiado tarde...

Quando dei conta era demasiado tarde.
Já os espinhos me tinham nascido ao longo do dorso alongado e,
embora adormecidos, eu sabia que eles um dia acordariam,
para resgatar a autonomia perdida.


Quando dei conta, era realmente, demasiado tarde.
Já definia territórios na lei da legitimidade das coisas e tinha como

meus, os domínios de um mar que nunca conhecera.
Já os meus olhos, de cor indefinida, se fixavam nos vidros do aquário,
numa tentativa punjente de libertação.
De fuga, às limitações a que os peixes palhaços me submetiam,
à primeira vista, inofensivos, coloridos e afáveis brincando macios,
em anémonas dançantes.



Extemporâneamente me apercebi da inevitabilidade da mudança,
da necessidade das escamas, guardiãs da alma.
























Quando dei conta de mim, percebi por fim, que eu tinha morrido lentamente dentro de um aquário de sal e quem ocupava, agora, este corpo, era o meu peixe balão.

57 Comments:

Blogger Ant said...

Bem, este blogue é mesmo muito interessante Van.
Peço desculpa pela distracção ;))

segunda-feira, setembro 18, 2006 5:07:00 da tarde  
Blogger sotavento said...

Muito bom, este texto percurso inevitável de vida!... :)
Agora uma brincadeirinha: cuidado com os espinhos no balão!... ;)

segunda-feira, setembro 18, 2006 6:59:00 da tarde  
Blogger sem-comentarios said...

Simplesmente adoravel este teu "esboço".
A liberdade para o mar , fez te perceber o quanto é dificil viver-se preso :)

lindo :)

bjs ***

segunda-feira, setembro 18, 2006 7:10:00 da tarde  
Blogger Um Poema said...

As asa do pensamento e a delícia de o deixar correr ao sbor da fantasia. Bom, muito bom!
Um abraço

segunda-feira, setembro 18, 2006 7:23:00 da tarde  
Blogger Licínia Quitério said...

Qual é o nosso território, Vanda?
Quem dele nos expulsa?
Tão angustiante a perda das escamas.
Belíssima linguagem simbólica.
Beijos.

segunda-feira, setembro 18, 2006 7:27:00 da tarde  
Blogger Ilidio Soares said...

Confesso a você que precisei lê-lo duas vezes, a primeira para entender o clima, a segunda para me assegurar se era aquele clima mesmo. Era. O parágrafo final deixa bem claro isso. Fantástico, Valeria. Fantástico.
bjos
Ilidio
P.S; Apenas uma observação: não é que o Jorge não quis atender, ele simplesmente não recebeu nenhum recado. Até porque quem está plugada é a Rachel, não ele. rs
bjos
Ilidio

segunda-feira, setembro 18, 2006 7:28:00 da tarde  
Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Acho este teu texto lindissimo.
Acho tb que para mim já e demasiado tarde...tenho vicios...não faço nem quero cedencias...trocas as mãos dadas pelo nunca ter que calar a minha opinião...e assim fico eternamente só.

Dizem que as atvores morrem de pe, não é???

segunda-feira, setembro 18, 2006 7:58:00 da tarde  
Blogger José Pires F. said...

Tomei hoje pela primeira vez contacto com este belo espaço. Belo, pelas palavras da Vanda e da lápis (li o post anterior) e também pelos desenhos da Medusa que gostei muito.

Será, mais um espaço a visitar e para o qual, faço desde já votos para que a sua vida seja longa e que nunca falte a inspiração às suas autoras.

Bem-hajam e um abraço, em especial à Vanda que é a única que conheço da blogosfera.

segunda-feira, setembro 18, 2006 8:25:00 da tarde  
Blogger Leonor said...

tenho vindo a perceber os teus finais insolitos num andamento à partida certinho.

beijinhos ás duas artistas.

segunda-feira, setembro 18, 2006 9:44:00 da tarde  
Blogger Maria P. said...

Agradeço a visita à Casa de Maio, sempre com a porta aberta...

Este lápis é mágico! Parabéns:)

segunda-feira, setembro 18, 2006 10:23:00 da tarde  
Blogger Teresa Durães said...

(credo.... o que não preciso hoje..)


desculpa Vanda... vim no dia errado

(e sou vegetariana, não como bacalhau lololol)

segunda-feira, setembro 18, 2006 10:37:00 da tarde  
Blogger Miguel Baganha said...

Parabéns, Feiticeira Escarlate...
Parabéns, Magic Pencil...
Gostei de submergir, no vosso universo aquático...
Senti-me um autêntico homem da Atlântida, nadando sobre o lirismo de um recife de coral escarlate, matizado por medusas de corpo etéreo...

Parabéns ao Lápis... grato por este belíssimo momento,

Miguel

;-)

segunda-feira, setembro 18, 2006 11:08:00 da tarde  
Blogger Alma Minha said...

Texto lindissimo...
Adorei!!!
Bjs

terça-feira, setembro 19, 2006 9:31:00 da manhã  
Blogger Luís said...

Como é bom mergulhar neste blog... obrigado pela partilha :)

Continuem a fazer-nos sonhar com esse lápis mágico.

terça-feira, setembro 19, 2006 9:34:00 da manhã  
Blogger ... said...

De que te queixas?
És uma ROSA!
Já te começaram a nascer os espinhos, de seguida são as pétalas.

terça-feira, setembro 19, 2006 2:10:00 da tarde  
Blogger GUIA DO APOSTADOR said...

Nunca é demasiado tarde para descobrir Blogs como este...e cara Medusa depois de ver a tua "parceira" de Blog ainda fiquei mais agradado. Saio daqui com um sorriso e com a convicção de que descobri mais qualidade dentro da quantidade da blogoesfera. Boa semana e agradeço-te a visita...

terça-feira, setembro 19, 2006 2:51:00 da tarde  
Blogger Paulo said...

..Foi por não estar-mos atentos que o carteirista fugiu a tempo....
Gostei do blog.
Paulo

terça-feira, setembro 19, 2006 3:21:00 da tarde  
Blogger P. Guerreiro said...

Bonitos textos e gravuras a condizer. Foi uma agradável surpresa. Só li os últimos, gostei da "Serenidade koi", especialmente pelo texto.
De resto está tudo muito equilibrado. De quem são as gravuras, vossa? que bela parceria.
Um abraço e boa semana!

P.S. Prometo regressar.

terça-feira, setembro 19, 2006 6:52:00 da tarde  
Blogger sem-comentarios said...

Vim reler mais uma vez :)

excelente **

terça-feira, setembro 19, 2006 8:26:00 da tarde  
Blogger Luna said...

Bem...Van, tanto se pode tirar deste texto, mas minha amiga, quantas vezes o primeito espinho se instala, e com o medo da dor de o retirar vamos deixando, e outro se intala, e nos vamos perdendo, dividindo em varias dores e ficamos amordaçadas
beijocas

terça-feira, setembro 19, 2006 9:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agradeço desde já a visita ao meu blog, pois que, sem essa visita, eu teria ficado mais tempo privado destes textos e destes desenhos. Lindo, tudo! Desde já ameaço que vou voltar!

terça-feira, setembro 19, 2006 11:15:00 da tarde  
Blogger Unknown said...

A lápis... nº1 HP... de carvão tão negro!
Excelente a tua viagem interior.

daniel

quarta-feira, setembro 20, 2006 4:15:00 da tarde  
Blogger nunocavaco said...

Muito interessante.

quarta-feira, setembro 20, 2006 4:54:00 da tarde  
Blogger Lord of Erewhon said...

Quem te mandou transformar num ouriço? :)=

quinta-feira, setembro 21, 2006 12:34:00 da manhã  
Blogger Thiago Forrest Gump said...

Bem criativo o post! Usou palavras particulares! Escreveu de forma simples, mas muito bem!

quinta-feira, setembro 21, 2006 4:51:00 da manhã  
Blogger Isabel said...

Este aquaário de sal em que vivemos, que embelezamos com plantas e pedrinhas,´será sempre um aquário...
Os peixes palhaços por mais belos e afaveis que pareçam vão sempre tentar submeter-nos e com tanta lata vão tentar que gostemos do aquário e lhes agradeçamos a amabilidade...
As escamas e picos são inevitáveis, sem eles roubam-nos a alma...
Mas nós que ainda temos alma, com ela saimos do aquário e vamos ao mar e eles nem sabem ...
Já não se lembram onde fica o mar...
Quem vive ainda no mar, são os sem abrigo, não se submeteram ... os peixes palhaço não lhes prestam a minima atenção, e para eles o peixe palhaço é que é o verdadeiro lixo...

Desculpa a rudeza das minhas palavras, é que gostei tanto tanto do teu post mas cada dia odeio mais este aquário...

Isabel

quinta-feira, setembro 21, 2006 1:09:00 da tarde  
Blogger Isa e Luis said...

Olá,

Gostei muito!

Concordo plenamente com a (luna) o mal é deixarmos ficar o primeiro espinho.

Obrigada pelo momento!

Beijitos

Isa

quinta-feira, setembro 21, 2006 4:02:00 da tarde  
Blogger DE-PROPOSITO said...

Quando morreres tu não percebes que isso aconteceu. Podes sim te aperceber que ela (o peixe balão) está próxima. É assim a vida, um não se saber, do que se sabe.
Fica bem.
Beijinhos para ti.
Manuel
Ah, não conheço nenhum caso onde os beijos tivessem morto alguém. Mas tudo é possível.

quinta-feira, setembro 21, 2006 6:59:00 da tarde  
Blogger Joker said...

E quando o primeiro espinho surgiu era tempo de Outono, toda a gente sabe que apenas no Verão nascem espinhos...porquê no Outono? Teria contado mal os dias...?
Fui ver...
Estava no ano dos 15 meses...o ano em que não era suposto eu existir...
Dei asas á imaginação e abandonei-me ao sonho que insistia em perfurar-me o peito...
Aumentei até mais não caber no aquário, estava completamente vestida de espinhos!
Afinal perdera a capacidade de sonhar...acabara de sucumbir á rotina!

Um beijinho para ti!

quinta-feira, setembro 21, 2006 9:54:00 da tarde  
Blogger Isabel Filipe said...

Simplesmente Fantástico Vanda.
Parabéns.
Adorei.

Beijinhos

sexta-feira, setembro 22, 2006 11:12:00 da manhã  
Blogger Maria Papoila said...

Poucas são as palavras, quando mergulhamos assim...magnifico!

***
Sou o que sou, e orgulho-me disso.
Mas por vezes também me perco, em mares meus...: )

Obrigada por estares aqui.
É tão bom dar...mas foi bom receber : )

sexta-feira, setembro 22, 2006 2:36:00 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola vanda. queria algo novo das do lápis. encontrei-o a dormir na secretária.

beijinhos da leonoreta

domingo, setembro 24, 2006 4:35:00 da tarde  
Blogger José Pires F. said...

:)

domingo, setembro 24, 2006 8:24:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A partir do momento em que nascemos vamos morrendo lentamente...é a lei natural das coisas.
Bjs

domingo, setembro 24, 2006 10:09:00 da tarde  
Blogger joão marinheiro said...

Olá Vanda. No momento, em que regresso de mais uma viagem, fico-me com as tuas palavras a bailarem sobre as ondas nervosas de um Mar Marengo, mediterrâneo.
...Demasiado tarde...
E não escrevo mais nada, fico-me com o eco das tuas palavras como um mar em mim…

segunda-feira, setembro 25, 2006 11:22:00 da manhã  
Blogger inBluesY said...

existem espaços em que apenas visito, entro sento e regresso.

desc nunca tenho muito que dizer a não ser adoro ler.te

segunda-feira, setembro 25, 2006 5:53:00 da tarde  
Blogger Luiz Carlos Reis said...

Asas da fantasia...
Contos narrados com a maestria numa plástica perfeitas!
Aprecio muito, além de poesia, ilustrações e caricaturas.
Parabéns!!!!!!!!!Voltarei sempre!

Abraços do Oficina!

segunda-feira, setembro 25, 2006 6:59:00 da tarde  
Blogger Leonor said...

oh vanda. rebuçados haverá sempre. porque o rebuçado nao é so o rebuçado que se come e se esquece até vir o proximo. sei que para eles o rebuçado é o merito.

obrigado pelo teu comentario. ajuda-me a continuar.

beijinhos da leonoreta

segunda-feira, setembro 25, 2006 7:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Saudações!
Obrigado por compartilhar um pouquinho de você comigo
::::::::::::::::::::::::::::
Tenha um Lindo dia
Merlin

terça-feira, setembro 26, 2006 2:43:00 da manhã  
Blogger Coral said...

Só vim deixar-te um sorriso sereno em rettirbuição da visita ao meu cantinho ...

Afinal também aqui se desaguam emoções ...

terça-feira, setembro 26, 2006 9:46:00 da manhã  
Blogger Unknown said...

Tarde? Demasiado?
Quando?
O sol de hoje já secou o molhado de ontem...

daniel sant'iago

terça-feira, setembro 26, 2006 10:56:00 da manhã  
Blogger o alquimista said...

Texto esmagador...tens o virtuosismo da palavra e luz no pensamento...oprfundo azul do mar em teu peito e a inquietação de um anjo na terra...

terça-feira, setembro 26, 2006 11:47:00 da manhã  
Blogger Isa e Luis said...

Olá,

passei para reler, e deixar muitos beijinhos


Uma semana excelente com muito sol:))

Isa

terça-feira, setembro 26, 2006 2:25:00 da tarde  
Blogger Luiz Carlos Reis said...

Somos como nuvens passageiras...efêmeras que com o vento se desfaz...
Adorei ler-te novamente!
Abraços do Oficina!

quarta-feira, setembro 27, 2006 11:18:00 da manhã  
Blogger Rui said...

Lápis perguiçoso, que não se quer gastar nos papéis. Mais, lápis, mais.

quarta-feira, setembro 27, 2006 5:37:00 da tarde  
Blogger Alberto Oliveira said...

Dentro de um aquário?! Há coisas do arco da velha! Então não é que fui ontem ao Aquário Vasco da Gama e entre muitas e variadas espécies de peixes, lá andava um muito redondinho (parecia um balão!) que tinha tatuadas no dorso as letras VB?!

quarta-feira, setembro 27, 2006 8:58:00 da tarde  
Blogger Luigi said...

O aquário, simbolo de prisão, assim como é a solidão quando nos cerca e nos confine a um espaço diminuto. Lentamente saiste do aquário, foste perdendo o medo e quando deste conta de ti não estavas mais sozinha tinhas a companhia do teu peixe balão...

quinta-feira, setembro 28, 2006 3:29:00 da tarde  
Blogger Bel said...

Gostei bastante de conhecer o blog, muito ineterssante. Quanto as escamas parece que é defesa pessoal.
ADorei a imagem
beijo
boa semana

quinta-feira, setembro 28, 2006 11:59:00 da tarde  
Blogger Embryotic SouL said...

Palavras de revolta...palavras de sofrimento...palavras de dor. Não te deixes prender...não te feches...abraça as forças em ti...que estas irão fazer-te submergir destas águas revoltosas...anima-te.
Um sopro sentido

sexta-feira, setembro 29, 2006 12:46:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá td bem? Bom, espero que sim. Obrigada por sua visita ao meu blog, adorei seu texto, muito bom... Bjinhos carinhosos e até breve.

sexta-feira, setembro 29, 2006 3:56:00 da manhã  
Blogger Marta Vinhais said...

Uma beleza de texto! Palavras bem desenhadas e poderosas.
Gostei de aqui estar e agradeço a visita ao meu blog.
Espero que seja a primeira de várias.
Beijos e abraços
Marta

sexta-feira, setembro 29, 2006 9:30:00 da manhã  
Blogger croqui said...

muito bom o texto e a ilustração também é de louvar pois completa-o tão leteral que é!

fantástico blog,
sem dúvida a continuar a visitar!

sexta-feira, setembro 29, 2006 3:13:00 da tarde  
Blogger o alquimista said...

Passei para te deixar um carinho

sexta-feira, setembro 29, 2006 3:38:00 da tarde  
Blogger Maria Liberdade said...

Mas, como era um peixe balão...voou. Salvou-te do aquário. Salvou-te da morte. E pudeste descansar numa rocha, enamorada e fundida com o teu peixe balão.

sábado, setembro 30, 2006 12:33:00 da manhã  
Blogger EyeOfHorus said...

Mesmo que mantenhamos os olhos bem abertos e os sentidos alerta, existem momentos que se movem em partículas de silêncio, tão rápido como um pestanejar. Não vimos, não sentimos, mas surgiram lá enquanto nos distraímos por uma brisa que nos roçou a face.

sexta-feira, outubro 13, 2006 11:43:00 da manhã  
Blogger Sophie said...

... e uma lágrima brilha como uma estrela distante...

Adorei o teu texto.
Um beijo meu.

sábado, outubro 14, 2006 11:44:00 da tarde  
Blogger Nina Owls said...

belissima forma de entrar-nos adentro. Como se fosse uma segunda pele, uma segunda voz, um outro sentido, as minhas deixas roubadas por Mia Couto ;)

sexta-feira, janeiro 16, 2009 4:15:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home