Autópsia de nós

Repara que só tive a coragem criteriosa de nos autopsiar, quando auscultei o coração e me apercebi que já não havia esperança de vida em nós.
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Repara que antes disso, eu não te submeti à frieza da gaveta onde te mantive depois, ao estupor dos membros, nem ao fio de sangue que me escorria da alma.
Nunca antes me tinha submetido ao álcool etílico, nem tão pouco fermentado sentimentos, nos açúcares que me criaras no ventre.
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Acredita que não usei o bisturi em vão, nem tão pouco por vaidade.
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A necrópsia do corpo de paixão que já não habitamos foi um grito urgente das minhas entranhas, na ânsia de saber de que enfermidade tinhamos padecido.
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Acredita-me. Só me atrevi quando antevi o silêncio final, a cruz do jazer sem paz e senti no corpo o peso das pedras de dor.
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Reminiscências de um amor sem ciência.
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Libertados estamos, acredita, usei de todo o cuidado, tu sabes como na cozinha sempre misturei bem condimentos e como fundia, com mestria, sabores.
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Tratei de fazer tudo pela ordem inversa.
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Dar a cada um de nós a essência do antes, remeter no depois, embrulhado em alfazema, cada corpo à sua forma original.
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Agora, só nos pode restar o céu.
Repara que antes disso, eu não te submeti à frieza da gaveta onde te mantive depois, ao estupor dos membros, nem ao fio de sangue que me escorria da alma.
Nunca antes me tinha submetido ao álcool etílico, nem tão pouco fermentado sentimentos, nos açúcares que me criaras no ventre.
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Acredita que não usei o bisturi em vão, nem tão pouco por vaidade.
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A necrópsia do corpo de paixão que já não habitamos foi um grito urgente das minhas entranhas, na ânsia de saber de que enfermidade tinhamos padecido.
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Acredita-me. Só me atrevi quando antevi o silêncio final, a cruz do jazer sem paz e senti no corpo o peso das pedras de dor.
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Reminiscências de um amor sem ciência.
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Libertados estamos, acredita, usei de todo o cuidado, tu sabes como na cozinha sempre misturei bem condimentos e como fundia, com mestria, sabores.
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Tratei de fazer tudo pela ordem inversa.
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Dar a cada um de nós a essência do antes, remeter no depois, embrulhado em alfazema, cada corpo à sua forma original.
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Agora, só nos pode restar o céu.
61 Comments:
as asas ( se é que as tive)
que me faziam "voar" ao atelier de gravura, queimaram-se no pó do quotidiano..
últimamente não tenho, uma hora sequer, para mim, isto é sem horários................
fizeste-me ter saudades dos bonecos que fazia....
Longa vida para o seu blog!
Um abraço
...
Bom regresso, "embrulhado em alfazema".
Obrigado pela visita.
Um abraço
alfazema, é agradável!
bom regresso
obrigada,
uma autópsia que parece ser a ante câmera do enterro de um amor
alfazema...talvez pela cor seja o aroma certo
bom fim de semana
Belissimas palavras... há sentimentos que vão além do significado da vida e da morte...
Um abraço...
é bom ver-te de novo de lápis na mão :) um grande beijinho, vanda.
que texto fantástico vanda. que texto..
Lápis,
Um belo Adeus. Cirúrgico como nas autópsias.Bem arrumado. Definitivo. Depois da mágoa.
E cheira a alfazema, como a roupa que guardamos cuidadosamente nas gavetas da nossa memória.
Beijos
( Obrigada pela visita.)
abraço-te VANDA!!!!!
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original o destino de quem se desafia..
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... então não me lembro?! e de que maneira!! voltei aos tempos de puto em que tudo me era permitido(?!) até ouvir dizer que os meus desenhos preludiavam um incontornável talento para as artes plásticas. Só que o meu lápis não tinha asas... e foi isso que cortou cerce uma carreira brilhante como piloto... aviador de imperiais bem geladas. Quanto ao "caso aqui tratado", as coisas estão bastante mais facilitadas: um coração com pés pode ir longe. Da mesa fria da autópsia até ao escaldante cemitério dos Prazeres, é uma brincadeira de crianças. Jamais o CSI dará conta do corpo de delito.
beijinhos.
Mais afiada que a mais afiada lâmina do mais afiado bisturí capaz de servir com precisão à mais delicada das mais delicadas cirurgias. Maravilha.
Cadinho RoCo
o lápis é a vanda ? ou é a vanda que é o lápis?
ó linda, isto parece o meu dia-a-dia: bisturis, sangue, eteres e clorofórmios.
A cozinha fica muito longe.
E o amor sem ciência é sem essência.
O meu chefe devia ler isto...
Beijo lápis-vanda
Partem-se e partem, os corações… no entretanto, fica tudo o resto, que não é pouco e pode ser muito doloroso.
Um excelente texto, que marca certamente um regresso duradoiro. Esperemos que sim.
Abraço.
Grato pela tua visita.
Continua na luz.
Excelente texto.
Estás convidado a visitar
http://agaioladedarwin.blogspot.com
O céu, apesar se tudo, contnua sempre lá...
Um beijo
Daniel
ui...
o céu!?
pois não sei...não sei.
a essência do antes. não sei...
texto... espesso!
Pois eu acho que resta o resto. E o resto é mais que o céu.
*
ditosa necrotomia,
em nós
,
conchinhas,
,
*
Sim: recomeça ao contrário. Gostei. :-)
Abrindo o coração diante da partida, ou da chegada de idéias novas...
Muito bom.
voltaste e isso e o que interessa.com um texto muito bonito e com uma imagem fantastica.
mas sabes... nem sempre a aula é de risota.quando se trata da leitura individual os outros escrevem bastante, coitadinhos. mas acho que levam aquilo na boa.
hoje fiz perguntas. estava com pena deles e perguntei, querem levar para casa ou fazer aqui? responderam que queriam fazer na sala. bom, pensei, menos mal.rsss
beijinhos
E esta tão longe...
um bjo
votos de uma boa dissecação de toda a beatitude ousada do céu que vos acolhe!
O céu, esse divino local de devaneios cumpridores do pecado!
O céu, esse divino local de devaneios cumpridores do pecado!
E o céu é o limite!
Sorrisos, afectos e palavras para oferecer...
«Não costumo gostar de gajos porreiros :) mas curti ler-te!»
- sou um gajo porreiro, mas só às vezes!
gostei destas "fotografias" literárias. destas poesias em prosa.
Já agora, não sei se é intencional ou acidental a opção de deixar correr para o fundo da página as colunas de links e outras, mas se é acidental acho que tal se deve ao facto de inserires fotografias demasiado largas, se as reduzires para 400pixels de largura no máximo, já as colunas não devem ficar no fundo da página mas no lugar habitual do template, neste caso em cima à esquerda.
Saúde, e boas viagens pelo universo das palavras.
Dizes "Reminiscências de um amor sem ciência."
Apraz-me citar-te S.João da Cruz:
"Este saber no sabiendo
es de tan alto poder,
que los sabios, arguyendo,
jamás le pueden vencer;
que no llega su saber
a no entender entendiendo,
toda sciencia trascendiendo."
Obrigado pela vista ao meu blog.
Este lápis tem mesmo asas. Hoje tive tempo, e vim aqui constatar isso mesmo. Os desenhos da Medusa Azul são adequados aos textos da Vanda, e o conjunto resulta muito bom. Gostei particularmente d'"O Gato", mas a Vanda sabe que, nesse capítulo, sou suspeito... :)
Prazer em conhecer a Medusa. Quanto à Vanda, somos velhos conhecidos, e lembramo-nos de coisas :)))
Um abraço a ambas.
Olá meninas,
Sorrio feliz com o vosso regresso...o céu ficou mais azul...
Beijinhos para ambas.
Isa
Feliz regresso!
Espero que visitem sempre a minha "casa", pois está sempre de portas abrtas, a quem vem por bem
bjs
É preciso se ter muita coragem para fazer uma autópsia e, mais ainda, para se fazer uma necrópsia do corpo de paixão que deixou de ser habitado.
Beijos pra ti!
processp clínico consumado.
segue se o dos restos
que ficam ao acaso
pendurados nas árvores!!...
Que bom ter-vos de volta
Beijos
... afinal a autópsia ainda decorre. Espero que o relatório seja clarificador. De morte natural ou macaca, de facto o céu espera-nos. O céu que cada um arquitecta à sua imagem e medida.
Cá em "baixo" ficam os lápis que nos desenham os epitáfios.*
*Có horror!!
beijos, abraços e sorrisos.
Quando a fénix já não pode renascer das cinzas, é preciso coragem para fazer a autopsia.
beijinhos
obrigado pela visita e pelo comentário que fez ao meu cantinho.
Volte Sempre.
Contente pelo teu regresso. De novo os bons textos e imagens.
Um beijinho, Vanda.
e tu tb.
sempre.
nas presenças e nas ausências.
beijos mil.
P.S. está mt dificil abrir o reu outro blog V.
demora demora e muitas vezes ...puf...
vai-se.
serei só eu?:(
.
re.beijos.
Ora, a essência do antes abre os caminhos de um amanhã melhor...
Volta a pegar no bisturi.. :)
um abraço daqui até... aí!
Total é a loucura do querer
Breve é chama da doce paixão
Total e insubmissa é a verdade
Que emana do teu terno coração
Sigo os passos da tua procura
Queda-se teu corpo nu em melodia incompleta
És instante da bondade dos Deuses
O canto de uma ribeira que o sol desperta
Boa semana
Abraço
cada vez menos maga...:)
.
.
obrigada V.
.
toda a minha ternura!
o céu...
e se este não existir?
tudo foi em vão, inclusive a autopsia, mas se houve autopsia era porque como dizes já não batia...
abrazo serrano
Lápis,
Hoje, com tempo, estive a desfrutar o vosso Blog.
É fabuloso pela originalidade dos desenhos e dos textos.
Obrigada às duas.
Beijinhos
Excelente texto!
Bjs,
embrulhados em alfazema será eternamente
abraço
q post tão bem feito,no seu todo!
mt bonito,
bjs
Excepcional, foi aquilo que li.
Que blogue interessante. Vou voltar mais vezes, vezes sem conta
Anad
um jogo de palavras diferente. apreciei.
e como fundes palavras e imagem
adorei conhecer este espaço. arrepiantemente belo
és dona do mais belo comentário em meu espaço de devaneios... e não derrepentemente me surpreendo aqui com uma infinidade de maravilhas escritas e ilustradas que me fazem sentir miúdo.
Ah, mas não por sentimentos mundanos derivados de qualquer tipo de ressentimento, e sim por outros (igualmente mundanos) como os de quem se depara com a grandiosidade de um belo por do sol ao topo de alguma montanha.
E passo a vida entre montanhas...
és mais que benvinda a colorir as linhas grossas que teimo em rabiscar em meu blog...
Obrigado pela visita!
Nik
Lindo.
Roubei o desenho do cora�o,
adicionei o endere�o aos favoritos.
:)
A paz.
As asas. O azul da liberdade.
CSD
é verdade! às vezes bem que parece não sermos mais do que cópias...
eu pergunto:
serão mesmo possíveis as realidades paralelas??
quantos aos clássicos...ainda ontem ouvi uma citação do Churchil na qual dizia que quanto mais longe se consegue olhar o passado, mais longe se conseguirá ver o futuro (algo assim)
mas este blog é a prova de que o assombro e o encantamento continuam possíveis.
e num golpa de mágica reencontro a Medusa!
Beijos para ambas.
Excelente ... o teu lápis tem asas tão especiais ...tb texto mto bonito...
auscultar o coração sempre cuidadosa mente ...
muitas vezes ouve-se gritar....
doente ...
às vezes quando a enfermidade é grave.... ele, o coração pára...
e volta a bater depois da despedida...
Estes texto é lindo.
Todos nós precisamos "autopsiar-nos" de vez em quando... para perceber do que às vezes padecemos.
Adorei ler e a ideia.
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