sexta-feira, abril 11, 2008

Autópsia de nós

















Repara que só tive a coragem criteriosa de nos autopsiar, quando auscultei o coração e me apercebi que já não havia esperança de vida em nós.
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Repara que antes disso, eu não te submeti à frieza da gaveta onde te mantive depois, ao estupor dos membros, nem ao fio de sangue que me escorria da alma.

Nunca antes me tinha submetido ao álcool etílico, nem tão pouco fermentado sentimentos, nos açúcares que me criaras no ventre.
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Acredita que não usei o bisturi em vão, nem tão pouco por vaidade.
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A necrópsia do corpo de paixão que já não habitamos foi um grito urgente das minhas entranhas, na ânsia de saber de que enfermidade tinhamos padecido.
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Acredita-me. Só me atrevi quando antevi o silêncio final, a cruz do jazer sem paz e senti no corpo o peso das pedras de dor.
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Reminiscências de um amor sem ciência.
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Libertados estamos, acredita, usei de todo o cuidado, tu sabes como na cozinha sempre misturei bem condimentos e como fundia, com mestria, sabores.
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Tratei de fazer tudo pela ordem inversa.
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Dar a cada um de nós a essência do antes, remeter no depois, embrulhado em alfazema, cada corpo à sua forma original.
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Agora, só nos pode restar o céu.